Lembra-se dos seus sonhos de criança? Já nessa altura, decerto sonhava ter um carro seu; e imaginava-se ao volante dele a fazer viagens fantásticas, a alta velocidade. Depois cresceu, e pouco a pouco começou a acreditar que, trabalhando, ia mesmo conseguir ter um carro real apesar se não ser o carro com que tinha sonhado. Mas era seu. Mais tarde, trocou de carro e o vendedor deu-lhe a opção de fazer um ALD ou um Renting, mas não aceitou: para si, era importante que o carro fosse mesmo seu. Hoje, muitos anos depois, muito provavelmente ainda não tem o carro dos seus sonhos. Mas, ironicamente e para se permitir ter outro tipo de benefícios, aceita pagar as férias com um cartão cheio de dinheiro que ainda não é seu, pagar ao banco uma hipoteca sobre uma casa que para ser sua ainda não o é; paga todos os meses o Spotify e o Netflix para ouvir música e ver séries que jamais serão suas se deixar de os pagar. Qualquer semelhança entre esta história e a escolha do seu escritório, não é mera coincidência. Para ter o escritório com que sempre sonhou, no centro de Lisboa, e que dignificasse os seus sonhos e o seu ego profissional, mesmo que não tivesse mais de 25m2, aceitou pagar 1.000€ por mês, só de renda e fora todos os outros encargos fixos associados, que divide com mais uma pessoa que trabalha para si. Independentemente do negócio que fizer em cada mês, no seu break-even-point e no seu cansaço ao fim de cada dia, vai sempre contabilizar este número: 1000. É, no mínimo, o que tem que vender para, pelo menos, pagar o arrendamento deste escritório, que, se pudesse e não tivesse uma casa e um carro para pagar, também tentaria comprar, para ter a garantia que era seu. Até ao dia em que, numa caminhada para ir almoçar, mesmo ao lado do seu escritório de 1.000€, na zona do Saldanha, descobre que há o Netflix e o Spotify dos escritórios, também designados escritórios virtuais. Descobre que pode trabalhar a partir de qualquer local e que, por menos de 10% da renda que paga, pode dispôr de um espaço e dos mesmos serviços que tem no seu escritório convencional – incluindo a utilização de uma morada de prestígio para a sede da sua empresa, atendimento telefónico profissional e acesso a salas de reunião e espaço de cowork, deixando as preocupações reais para os outros. Não vai poder dizer que o escritório virtual é mesmo seu, é certo. Mas a única coisa que é verdadeiramente sua, enquanto a tiver, é a vida. E a vida só será de sonho, se não continuar a adiá-la, apostando na sua liberdade e procurando ser feliz no trabalho. |